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Thamires

Em 2017, Thamires tinha 16 anos. No segundo grau do ensino médio do Colégio Ari de Sá Cavalcante, começou a participar da Olimpíada Nacional de História (ONHB) com duas amigas. Em certo ponto da olimpíada, a jovem e seu grupo precisaram buscar a ajuda de um professor formado em história e coordenador da turma de pré ITA/IME, Saulo, de 28 anos. “Desde sempre ele foi muito estranho, trazia assuntos como sexualidade. Como a gente era muito imatura, atiçava nossa curiosidade. Ficávamos querendo saber mais. Ele mostrava para as alunas fotos de mulheres nuas como se fosse algo comum, no próprio computador da escola”, conta Thamires sobre o comportamento do professor. 

 

Além disso, a garota também afirma saber de casos de assédio de Saulo com outra estudante, e que ele já chegou a contar às meninas da equipe de história o que faria com ela. Mesmo após a ONHB, Thamires conta que manteve contato com o professor, chegando a trocar mensagens. No São João da escola, ele ofereceu carona para casa para ela e sua amiga, no que as duas aceitaram. “Eu era muito bobinha. Muito disso aconteceu porque eu era muito bobinha”, declarou. Ao chegar no portão da casa, a garota conta que tentou sair do carro, mas as portas foram trancadas: “Eu quis sair do carro, ele não deixou, trancou a porta. Minha amiga ficou no banco de trás. Ele me fez beijar ele. Eu não queria, achei muito estranho, mas ele me fez pensar que eu só sairia dali com um beijo”.

 

Em resposta, Thamires aceitou ao beijo e se retirou do carro às pressas. Após isso, ela manteve contato mesmo com as férias, trocando muitas mensagens, ainda falando sobre sexualidade, enviando fotos de livros, poemas, etc. “Ele começou a colocar na minha cabeça de que aquilo era muito bom, muito legal”, explica a garota. Então, foi quando Saulo começou a chamá-la para sair, mas dizia ter que ser discreto, já que era proibida a relação de um professor com aluna. “Chegamos a ir pro cinema, onde esbarramos com um aluno dele. Foi constrangedor”, conta.

 

Apesar de achar divertido, sentia-se extremamente desconfortável com a situação. “Eu sabia dentro do meu ser que aquilo estava errado, eu estava quebrando regras institucionais e minhas próprias regras morais”, declara. Dentre as conversas, Saulo contava segredos de outros professores do Ari de Sá, revelando aqueles que se relacionavam secretamente com alunas, locais secretos para se encontrar, sem câmeras, que já eram conhecidos por eles. Assim como também contava já ter ficado com 30 alunas. 

 

Thamires explica que seus encontros costumavam ser no carro, até que ele requisitou o local de sua preferência, sugerindo um motel. “Eu não queria de jeito nenhum. De jeito nenhum, nenhum, nenhum. A gente acabou indo, mas eu não gostava. Não queria estar lá. Mas era a única forma de me encontrar com ele. Eu tava muito desconfortável já”, explica a garota. Também graduado em psicologia, Thamires hoje acredita que ele usava seus conhecimentos para convencê-la. Chegou a sentir tanto incômodo que resolveu terminar essa situação logo que as aulas voltaram, e assim o fez. 

 

No entanto, Saulo frequentemente se envolvia em polêmicas. Em uma delas, falou para uma de suas alunas, que tinha acompanhamento psicológico, que deveria fazer sexo com seu terapeuta. Ela resolveu levar o caso à coordenação, e chamou Thamires como sua testemunha. Nesse momento, a jovem decidiu também realizar sua denúncia, apesar de sentir que não tinha provas após ter apagado todas as mensagens. “Depois de um tempo eu comecei a me sentir muito mal, mas eu vi que eu não tinha aceitado aquilo, eu apenas cansei de dizer não”, expressa a garota ao refletir sobre sua culpa.

 

De acordo com Thamires: “Eu não tinha provas. Se uma mulher com provas já é desrespeitada, imagine eu (sem provas). Ele sempre falou que sua família era muito poderosa”. Ainda assim, contou seu relato para o diretor da sede Aldeota, que se responsabilizou a resolver a situação e, no mesmo dia, Saulo foi desligado do Colégio. No entanto, a jovem sentia-se mal com todo o acontecido, e reclama não ter recebido nenhum apoio psicológico da parte da instituição. “Eu me olhava no espelho e me odiava. Já até cogitei sessões de hipnose porque eu não queria lembrar de jeito nenhum que ele existiu na minha vida”, conta a garota sobre o sentimento.

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